O consumo no Brasil registrou um aumento significativo de 9,8% em 2023
Dados da Kantar, que monitora o comportamento do consumidor em tempo real, indicam que o consumo dentro de casa atingiu seu maior índice histórico, enquanto o consumo fora de casa voltou a crescer, alcançando níveis pré-pandêmicos. Entre as tendências observadas, destaca-se a busca dos brasileiros por marcas variadas, tanto premium quanto econômicas.
Rafael Kröger Couto, do Consumer Strategy da Worldpanel by Kantar, ressalta que o consumo não se resume apenas a preços, e é nesse contexto que as marcas próprias ganham cada vez mais espaço.
Crescimento das marcas próprias na América Latina
Durante o PL Connection 2023, foi ressaltado que, na América Latina, a participação das marcas próprias é de 16%, com um crescimento notável na cesta de higiene e beleza. “No primeiro trimestre de 2023, observamos um aumento de 50% nas marcas próprias, comparado ao primeiro trimestre de 2021. Apesar do crescimento, ainda há um longo caminho de oportunidades para as marcas próprias”, explica Couto.
Antônio Sá, sócio-fundador da Amicci, empresa especializada em gestão e desenvolvimento de marcas próprias, aponta que no Brasil essa estratégia representa apenas 5% das compras de produtos de giro rápido (FMCG), enquanto na Europa esse número é de 41%.
Segundo uma pesquisa da NielsenIQ, produtos exclusivos já estão presentes em 34% dos lares brasileiros, um número que Sá acredita estar fortemente ligado às questões econômicas, dado que os gastos com alimentação representam uma grande parte do orçamento das famílias.
Expansão necessária das marcas próprias
Atualmente, as marcas próprias estão concentradas em categorias básicas, especialmente commodities. No entanto, há oportunidades em outras categorias, como bebidas e perecíveis. Couto destaca a necessidade de expansão regional, pois há uma alta concentração no Sudeste, enquanto as regiões Norte e Nordeste ainda estão subdesenvolvidas nesse mercado.
“Os varejistas tendem a desenvolver produtos para consumidores com mais de 50 anos, enquanto outros grupos demográficos permanecem pouco explorados”, observa Couto.
Tendências emergentes nas marcas próprias
Para Antônio Sá, a busca por itens de qualidade a preços acessíveis está crescendo. Uma em cada três famílias brasileiras prefere produtos de portfólio exclusivo, segundo a NielsenIQ. Varejistas, indústrias e distribuidores estão cada vez mais apostando nas marcas próprias e devem estar atentos às tendências globais para manter seu crescimento.
“Houve um aumento nas linhas de produtos premium, que focam na alta qualidade dos ingredientes. Linhas de bem-estar e saudabilidade, além de produtos orgânicos e locais, também estão sendo valorizados”, explica Sá.
Os produtos sazonais, como os desenvolvidos para datas específicas, também têm ganhado destaque e já são populares na Europa. “Entender os hábitos de consumo e adaptar-se a eles é crucial. Em épocas de festas juninas, por exemplo, podem ser desenvolvidos itens especiais que remetam à data”, sugere Sá.
Oportunidades para o futuro
Sá destaca que o Brasil possui um parque fabril altamente qualificado e uma liderança no varejo e distribuição que está cada vez mais valorizando o desenvolvimento de marcas próprias como um diferencial competitivo para fidelizar clientes e aumentar a rentabilidade. Com a média global de participação das marcas próprias nas vendas mundiais sendo de 23,1%, segundo a NielsenIQ, o Brasil tem um enorme potencial para crescer e atingir essa média, o que significaria quintuplicar a participação atual. Esse crescimento beneficiaria varejistas, indústrias e, principalmente, os consumidores.
Mudança de paradigma no consumo
O aumento do consumo de marcas próprias no Brasil reflete uma mudança significativa no comportamento do consumidor, impulsionada tanto por fatores econômicos quanto pela busca por valor e qualidade.
Com a indústria e os varejistas cada vez mais focados em expandir e inovar suas ofertas, o mercado de marcas próprias está pronto para um crescimento contínuo e robusto, beneficiando todos os envolvidos.
Fonte: Jornal Empresas e Negócios